"Despedida da minha propriedade", diz colono de Apyterewa ao cumprir prazo para saída voluntária
- Luana Valente
- 1 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
O prazo para a saída voluntária das famílias que moravam na Apyterewa encerrou, e quem permanecer está sujeito a multa de R$ 10 mil. Mesmo sem perspectivas, vários colonos desocuparam a área a tempo.

Vários vídeos circulam nas redes sociais, com relatos de colonos que agora são ex-moradores de Apyterewa, espaço rural situado em São Félix do Xingu, no sul do Pará, manifestando indignação com o resultado da operação de desintrusão, que culminou na saída forçada de centenas de famílias da região, em que viviam da agricultura, trabalhando com a criação de gados e plantios.
Entre os vídeos mais visualizados, está o de um senhor que, visivelmente irritado, culpa a atual gestão do governo de Lula (PT), e alega que não deram outra alternativa a não ser de ir embora, e sem sequer receber indenização, uma vez que, por decisão do STF e da Justiça Federal no Pará, a área já está designada à vivência exclusiva dos indígenas da etnia Parakanã e à preservação ambiental.
A Justiça determinou que o policiamento federal faça a fiscalização da região por 60 dias, como forma de garantir que os produtores não retornem.
O prazo final para a saída voluntária encerrou na terça-feira (31). A Justiça Federal determinou que quem desacatar a ordem estará sujeito a arcar com multa diária de R$ 10 mil, por morador.
Futuro incerto
Um outro vídeo, o cenário de descaso que assola os colonos, por não ter condições de dar o tratamento e transporte adequado aos seus animais. Ao se verem sem recursos para transportar esses animais, somado ao receio de que o governo federal os retenha, vários produtores sairam caminhando com os próprios pastos pelos ramais e sem a menor perspectiva; muitos animais estão morrendo pelo caminho.
O deputado estadual Rogério Barra (PL-PA), que está em vista na região, se deparou com muitos animais mortos e levantou questionamentos para um produtor quanto a falta de fiscalização do governo federal e do IBAMA, e tem uma resposta imediata: "covardia (...) Já perdi seis vacas no meio do caminho. Nós estamos quase 30 anos aqui e saímos com uma mão na frente e outra atrás".
"Estou aqui há quase 60 anos e nunca tinha visto uma coisa dessa no Brasil. É uma injustiça muito grande", desabafa outro colono, que ainda relata estar há uma semana caminhando pelos ramais com os gados. Ao ser questionado se tinha para onde ir, o homem silencia, chora e desabafa "que o rumo é a moradia (...) É muito sofrimento para o povo, estou sem rumo nenhum (...) Larguei a minha propriedade".
Ao se deparar com a realidade , o parlamentar se compromete em acionar todas as entidades de fiscalização pelo descaso com os animais.
"O Lula que subiu a rampa para simbolizar a proteção com os animais, mas aqui ele não teve cuidado nenhum (...) A gente vê o ato de desespero dos colonos e grande parte desses animais estão sendo mal tratados (...) e vem a óbito por falta de água e comida (...) É mais tratos com os animais. Vamos acionar todas as entidades de fiscalização por conta desse ato criminoso do governo federal", declara Barra.
Na esfera parlamentar federal, o deputado Delegado Caveira (PL-PA), por meio do Requerimento 387/2023, objetiva realização de visita técnica de membros da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado para fiscalização das ações de desintrusão. A iniciativa visa ainda a formação de uma comissão de Deputados Federais para ir ao local e "verdadeiramente levantar a real situação em busca de solução".
STF rejeita pedido de permanência
O presidente do STF - Supremo Tribunal Federal, o ministro Luís Roberto Barroso, negou o pedido da Prefeitura de São Félix do Xingu, para manutenção de 3 mil famílias de colonos na extensão Apyterewa, segundo o texto da decisão. Além disso, rejeitou a suspensão da operação desintrusão, homologada pela suprema corte e ordenada pela Justiça Federal de Redenção.
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