Navios de luxo oferecerão 6 mil leitos na COP30, mas distância levanta preocupações

Raphael Luz/Agência Pará

Com a expectativa de receber cerca de 50 mil participantes durante a COP30, marcada para novembro em Belém, o governo federal adotou como uma medida para ampliar a capacidade de hospedagem: dois navios de cruzeiro internacionais, o MSC Seaview e o Costa Diadema, funcionarão como hotéis flutuantes, oferecendo mais de 6 mil leitos em cerca de 3.900 cabines.

A alternativa busca contornar a escassez de vagas na rede hoteleira da capital paraense, que conta com apenas 20 mil leitos disponíveis. No entanto, a localização dos transatlânticos — atracados no Porto de Outeiro, na Ilha de Caratateua, a cerca de 20 km do centro de Belém — levanta preocupações logísticas e ambientais.

A promessa oficial é de que o trajeto entre os navios e os pavilhões da conferência, no Parque da Cidade, leve apenas 30 minutos. Para isso, o governo do Pará aposta na conclusão da ponte estaiada entre Outeiro e Icoaraci, prevista para setembro. Contudo, vale frisar que o percurso envolve múltiplas etapas — desembarque nos navios, travessia em lanchas, embarque em ônibus e trânsito urbano — que podem triplicar o tempo estimado.

A geóloga Aline Meiguins, da Universidade Federal do Pará, destaca que Belém enfrentará um “teste de mobilidade interna” sem precedentes, exigindo integração entre transporte hidroviário e terrestre.

O custo da operação gira em torno de R$ 263 milhões, com garantia pública de R$ 259 milhões para cobrir eventuais prejuízos caso os leitos não sejam totalmente ocupados. As diárias variam entre R$ 1,2 mil e R$ 3,3 mil, dependendo da delegação, e cerca de 500 acomodações foram reservadas para países em desenvolvimento.

Apenas 47 das 196 delegações previstas confirmaram presença até o momento, o que aumenta a pressão sobre os organizadores diante da disparada nos preços de hospedagem em Belém — alguns reajustes ultrapassaram 8.000%.

O Porto de Outeiro passa por reformas para receber os navios, incluindo a construção de um píer de 710 metros, com entrega prevista para outubro. A região, conhecida por suas praias de água doce, também enfrenta desafios urbanos como ruas estreitas e trânsito intenso, o que pode comprometer a fluidez do transporte oficial da conferência.

A COP30 será a primeira edição da conferência climática da ONU realizada na Amazônia. A escolha de Belém como sede apesar de reforçar o protagonismo brasileiro nas discussões ambientais, também expõe gargalos estruturais que exigem soluções rápidas e eficazes.