PF investiga esquema de propinas com obras de macrodrenagem em Belém ligadas à COP30; imóvel no Leblon e R$ 5,3 milhões estão entre os alvos
- Luana Valente

- 26 de out.
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A Polícia Federal deflagrou a Operação Óbolo de Caronte para apurar um esquema de corrupção envolvendo obras de macrodrenagem em Belém (PA), que incluiriam o canal São Joaquim e a bacia do igarapé Mata Fome — projetos apresentados como prioritários para a COP30. A investigação aponta o desvio de recursos públicos por meio de fraudes em licitações, lavagem de dinheiro e pagamento de propinas que somariam ao menos R$ 5,3 milhões.
Segundo a PF, os contratos sob suspeita foram firmados entre 2020 e 2024 pela antiga Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), atual Secretaria de Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel). As obras, que somam cerca de R$ 153 milhões, tinham como objetivo combater enchentes em áreas periféricas da capital paraense, mas foram paralisadas ou executadas de forma irregular.
A operação, realizada em 16 de outubro de 2025, cumpriu 13 mandados de busca e apreensão e determinou o afastamento cautelar de 12 servidores públicos. Também foram decretadas suspensões de contratos e o sequestro de bens dos investigados, incluindo um apartamento de luxo no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, que teria sido adquirido com recursos ilícitos.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, o esquema envolvia o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos por empreiteiras contratadas para executar os projetos. Entre os benefícios identificados estão dois apartamentos, um carro de luxo e transferências bancárias que totalizam R$ 5,3 milhões. A ex-secretária de Saneamento de Belém é apontada como uma das beneficiárias diretas do esquema, mas não se manifestou até o momento.
O projeto da bacia do Mata Fome, em especial, foi apresentado como símbolo do compromisso ambiental da cidade-sede da COP30, mas acabou abandonado, deixando comunidades vulneráveis sem as prometidas intervenções contra alagamentos. A PF investiga se a paralisação das obras foi deliberada para facilitar o desvio de recursos.
A operação recebeu o nome “Óbolo de Caronte” em alusão à moeda que, na mitologia grega, era paga ao barqueiro Caronte para atravessar o rio Estige rumo ao mundo dos mortos — uma metáfora para os desvios de recursos destinados a obras que deveriam salvar vidas, mas que acabaram naufragadas em corrupção.






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