Postos e PCC: Investigados em esquema de combustíveis adulterados compraram helicóptero e Lamborghini

Uma operação conjunta da Receita Federal e do Ministério Público de São Paulo (MPSP) revelou um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro envolvendo postos de combustíveis, motéis, franquias e empresas de fachada, com vínculos diretos ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Os alvos da investigação adquiriram bens de luxo como helicópteros, um Lamborghini Urus e até um iate de 23 metros, além de imóveis avaliados em milhões de reais.

A ação, batizada de Operação Spare, foi deflagrada nesta quinta-feira (25) e cumpriu 25 mandados de busca e apreensão em cidades como São Paulo, Santo André, Barueri, Campos do Jordão, Osasco, Santos e Bertioga. O foco da investigação é o empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como “Flavinho”, suspeito de liderar o esquema e de lavar dinheiro do crime organizado por meio de postos e casas de jogos clandestinos.

Segundo a Receita Federal, os investigados usaram empresas patrimoniais e de fachada para adquirir bens de alto valor. Entre os itens estão:

• Um iate de 23 metros, inicialmente comprado por um motel e depois transferido a uma empresa de fachada.

• Dois helicópteros, sendo um modelo Augusta A109E.

• Um Lamborghini Urus, adquirido por empresa patrimonial.

• Terrenos onde estão localizados diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.

A investigação teve início após a apreensão de máquinas de cartão em casas de jogos ilegais em Santos, que estavam vinculadas a postos de combustíveis. Os valores eram transferidos para a fintech BK Bank, usada para ocultar a origem ilícita dos recursos. A mesma fintech já havia sido alvo da Operação Carbono Oculto, que revelou a infiltração do PCC em diversos elos da cadeia de combustíveis — da importação à comercialização final.

Além dos postos, o esquema envolvia 60 motéis, 98 lojas franqueadas da rede O Boticário (sem envolvimento direto da marca, segundo o MP), e empreendimentos imobiliários. Os motéis, registrados em nome de “laranjas”, movimentaram R$ 450 milhões entre 2020 e 2024. Um dos restaurantes associados a esses motéis distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após registrar receita de R$ 6,8 milhões.

A Receita também identificou manipulações fraudulentas em declarações de Imposto de Renda, com retificações simultâneas de anos antigos e recentes, visando justificar patrimônios incompatíveis com os rendimentos declarados. Estima-se que os bens identificados representem apenas 10% do patrimônio real dos envolvidos.

A operação mobilizou mais de 100 policiais militares, agentes da Receita, do MPSP e da Secretaria da Fazenda. As autoridades prometem reforçar o controle sobre a importação de derivados de petróleo e a identificação de beneficiários finais de fundos de investimento para conter a atuação de organizações criminosas no setor.