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Ribeirinhos de Moju enfrentam sozinhos incêndios enquanto prefeita viaja para COP29 sem compromissos oficiais

Foto do escritor: Luana Valente Luana Valente

Enquanto a cidade paraense sofre com incêndios devastadores, a prefeita Nilma Lima viaja para evento internacional sem compromissos oficiais, gerando revolta entre os moradores que lidam com a crise ambiental.

Reprodução

Enquanto as chamas consomem áreas ribeirinhas em Moju, no Nordeste do Pará, a prefeita Nilma Lima (MDB) esteve no Azerbaijão acompanhando a COP29, mas sem participação em agenda oficial. A situação crítica no município, a 190 quilômetros de Belém, deixou moradores indignados, forçando-os a combater o fogo sem apoio efetivo do poder público.


Denilson Sousa Moraes, 36 anos, é um dos ribeirinhos que enfrentam os incêndios há mais de duas semanas para salvar sua plantação de açaí, fonte de renda que garante até R$ 1.600 semanais para sua família. Seus filhos, Denis, de 14 anos, e Daniel, de 12, também participam da luta contra o fogo, mesmo que isso signifique perder aulas. “Era para estarmos comemorando o aniversário dele, mas estamos aqui enfrentando o fogo”, lamenta Denilson.


Comunidades em crise


Os incêndios, que já duram dois meses, forçaram idosos, grávidas e mães com bebês a abandonarem suas casas devido à fumaça. Plantações inteiras foram destruídas, animais morreram carbonizados, e uma escola municipal chegou a ser ameaçada pelas chamas. A estudante de jornalismo Eduarda Castro, 21 anos, criticou a falta de ação das autoridades.


“É importante participar de eventos globais, mas de que adianta falar sobre o futuro do clima se o presente está pegando fogo? Estamos sozinhos, sem apoio, e é como se ninguém nos enxergasse”, afirmou Eduarda.

Henrique dos Santos Cardoso, conhecido como Lourival, só conseguiu salvar parte de sua roça graças à ajuda de vizinhos. “Se largássemos de mão, tinha perdido tudo. Bombeiro? Nada, não veio nem espiar. A prefeita? Tá dormindo”, desabafou o agricultor.


Prefeita responde


A prefeita Nilma Lima afirmou que esteve na COP29 entre 11 e 17 de novembro e que custeou sua própria viagem. Segundo ela, participou de discussões como parte da comitiva liderada pelo governador Helder Barbalho (MDB) para “aprender e trazer informações”. Porém, o Consórcio da Amazônia Legal, citado por Nilma como vínculo oficial de sua participação, negou qualquer relação institucional com a prefeita ou seu marido, o deputado Iran Lima (MDB).


Sem agenda nem reuniões, mas com selfie: prefeita saiu de Baku ‘oficialmente com aprendizado, graças a Deus’.

Nilma declarou que esforços de combate ao fogo foram realizados em Moju, mas reconheceu a insuficiência de recursos. “Mesmo pequenas, as equipes atuaram. Tentamos combater com o Estado, a Defesa Civil, os bombeiros e a Guarda Municipal. Mas sabemos que alguns focos podem ser criminosos, né?”, justificou.


No entanto, moradores entrevistados relataram que a maior parte do trabalho ficou por conta da população. Após ser informada das críticas, a prefeita enviou imagens de bombeiros atuando no dia 19 de novembro e questionou: “Quem apagou o fogo então? Foram só os coitados do pessoal que mora lá? Não tem condições.”


Impacto nas escolas


As queimadas também afetam o cotidiano escolar. Na comunidade de Pedreira, mais de 120 crianças ficaram sem aula devido à fumaça. Dorivaldo da Silva Rodrigues relatou que seus filhos perderam uma semana de estudo, incluindo provas. Elias, de 9 anos, e Maria Clara, de 6, ficaram tristes por estarem longe dos amigos.


Outro caso é o de Daniel Belém Maciel, 17 anos, que precisou faltar às aulas para combater incêndios próximos de sua casa. Ele enfrentou o fogo diariamente, das manhãs até altas horas da madrugada.


Fumaça mudou a rotina dos moradores e exigiu que famílias saíssem de casa (Foto: João Paulo Guimarães)

Cadastros sem respostas


Após uma tempestade que apagou parte das chamas, moradores da comunidade Pedreira receberam a visita de uma assistente social e representantes da Secretaria do Meio Ambiente. Segundo Mariana Trindade, 41 anos, eles registraram os danos, mas não ofereceram explicações claras sobre possíveis auxílios.


“Tiraram fotos, pegaram nossos documentos, mas nem foram na roça ver o que perdemos. Só queremos ajuda para recomeçar, mas nem disseram se vão pagar algo”, desabafou Mariana.

O agricultor Jorge Machado, 52 anos, também foi cadastrado, mas permanece sem respostas sobre compensações.


Falta de energia elétrica após tempestade trouxe ainda mais transtorno às famílias da Comunidade da Pedreira (Foto: João Paulo Guimarães)

Foco no futuro enquanto o presente arde

Apesar da devastação em Moju, o governo do Pará destinou recursos para promover a COP30 em Belém, incluindo um show do DJ Alok no dia 24 de novembro. Enquanto isso, em Moju, as luzes não eram de festa, mas das labaredas de fogo que trazem medo à população.


Após a tempestade, o fogo e a fumaça retornaram à região, indicando que a crise está longe de ser resolvida. Para os moradores, a situação reflete uma desconexão entre os líderes políticos e as necessidades reais das comunidades afetadas.


Dona Zazá, 65 anos, lamentou que as chamas destruíram parte de seu açaizal (Foto: João Paulo Guimarães)

“Nunca vi algo assim”, diz dona Zazá, 65 anos, que perdeu parte de seu açaizal para as chamas. “O fogo talvez tenha começado com a queima de piri, mas com essas mudanças climáticas, tudo ficou fora de controle.”


Com as queimadas afetando a produção, a educação e a vida de centenas de ribeirinhos, o cenário exige respostas urgentes das autoridades. Enquanto isso, a força e a solidariedade da comunidade têm sido as principais armas contra o fogo.



Pará Web News





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