Associações fraudam mortes para lavar dinheiro do INSS, aponta PF
- Luana Valente
- 10 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de mai.

A Polícia Federal revelou um esquema de fraude envolvendo associações que simulavam mortes de aposentados para lavar dinheiro oriundo de descontos indevidos no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A investigação aponta que as entidades Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas (Caap) e Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen), ambas sediadas no Ceará, repassaram milhões de reais a uma funerária para justificar transações suspeitas.
Segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a funerária Global Planos Funerários recebeu R$ 34 milhões da Caap e R$ 2,3 milhões da Aapen entre 2022 e 2024. Os valores seriam suficientes para custear o enterro de 8.713 pessoas, o que equivale a 19 mortes por dia. No caso da Aapen, a média seria de 3,78 mortes diárias. Apesar disso, o número de associados permaneceu estável, levantando suspeitas sobre a veracidade dos óbitos registrados.
A Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 147,3 milhões da Caap, R$ 147,3 milhões da Global e R$ 202 milhões da Aapen. Além disso, autorizou buscas nos endereços das entidades investigadas. A Polícia Federal identificou que parte do dinheiro recebido pela funerária foi repassado à Clínica e Laboratório Máxima Saúde Ltda, empresa ligada à tesoureira da Aapen, Maria Luzimar Rocha Lopes, que recebeu R$ 700 mil em transações suspeitas.
Outro indício de fraude é que nenhuma das associações oferecia planos funerários aos seus membros. A Global Planos Funerários pertence a José Lins Neto, ex-presidente da Caap e vinculado à Aapen. A Polícia Federal aponta que o caminho do dinheiro — das associações para a funerária e, posteriormente, para a clínica — era utilizado para lavagem de dinheiro.
A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) entrevistou aposentados supostamente associados à Aapen e constatou que nenhum deles autorizou os descontos em suas contas do INSS. Na Caap, apenas uma pessoa entre 215 entrevistadas confirmou ter autorizado o pagamento. Desde 2019, a Aapen arrecadou R$ 81,9 milhões com descontos de associados, enquanto a Caap movimentou R$ 48 milhões.
A funerária Global teve seu CNPJ encerrado em abril de 2025, mês em que foi alvo de uma operação da Polícia Federal. As investigações continuam para identificar todos os envolvidos e determinar a extensão dos prejuízos aos cofres públicos.
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