Crise empresarial: mais de 31 mil empresas recorrem à recuperação judicial no Brasil

Reprodução Valor Econômico

Um levantamento inédito da empresa Predictus, especializada em dados judiciais, revelou que 31.773 empresas brasileiras entraram com pedidos de recuperação judicial entre 2015 e o início de 2025. O dado escancara a fragilidade do ambiente empresarial no país, marcado por instabilidade econômica, choques de mercado e os efeitos prolongados da pandemia de Covid-19.

Ao todo, foram registrados 48.205 processos de recuperação judicial no período, envolvendo diretamente 65.718 empresas — entre devedoras e credoras. O pico de pedidos ocorreu em 2017, reflexo da crise econômica iniciada em 2014, e voltou a crescer em 2020, com a chegada da pandemia.

O estudo também desmonta o mito de que apenas pequenas empresas recorrem à recuperação judicial. A idade média das companhias que buscaram o recurso é de 34,6 anos, muitas com faturamento superior a R$ 100 milhões e centenas de funcionários. Algumas delas são sociedades anônimas, o que indica que nem mesmo estruturas corporativas mais robustas estão imunes a colapsos financeiros.

Geograficamente, a Região Sudeste concentra 71% dos casos, com destaque para São Paulo (12.747 pedidos) e Rio de Janeiro (6.208). O setor industrial foi o mais afetado, seguido por empresas de médio e grande porte em diversos segmentos.

Outro dado alarmante: cerca de 3.900 empresas recorreram a mais de um processo de recuperação judicial, sugerindo reestruturações malsucedidas ou dificuldades crônicas. Por outro lado, o levantamento aponta avanços na digitalização do Judiciário — 91% dos processos são eletrônicos.

O cenário traçado pela pesquisa revela não apenas os desafios conjunturais enfrentados pelas empresas brasileiras, mas também questões estruturais de gestão, acesso a crédito e adaptação a um mercado em constante transformação.