
A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas, incluindo 24 militares, gerou grande repercussão. A peça, assinada pelo procurador-geral Paulo Gonet, acusa Bolsonaro de ter conhecimento e concordar com um suposto plano de golpe denominado "Punhal Verde e Amarelo". No entanto, a denúncia omite trechos dos depoimentos do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, que poderiam relativizar as acusações. Em suas declarações, Cid afirmou não saber se Bolsonaro tinha conhecimento do plano.
"Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não do plano que foi tratado, do Punhal Verde Amarelo, e se o general Mário levou esse plano para ele ter ciência ou não", disse Cid em depoimento.
Outro ponto de discordância entre a denúncia da PGR e os depoimentos de Cid é o monitoramento de Alexandre de Moraes. A PGR enfatiza que Bolsonaro ordenou o monitoramento, mas omite a explicação de Cid de que o pedido não estava ligado ao plano de assassinato, mas sim a encontros entre Moraes e o então vice-presidente Hamilton Mourão. "Um deles [objetivo] é que ele [Bolsonaro] recebeu a informação que o general Mourão estaria se encontrando com ele [Moraes] em São Paulo, então foi uma maneira de verificar se essa informação era verdade ou não", relatou Cid.
A omissão dessas falas nos depoimentos de Cid gerou críticas entre os apoiadores de Bolsonaro, que consideram a denúncia parcial e tendenciosa. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por exemplo, classificou a denúncia como um roteiro "digno de Hollywood".
Segundo a PGR, o suposto plano visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e incluía o assassinato de figuras importantes como o próprio Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
As investigações da Polícia Federal (PF) indicam que a tentativa de golpe estava prevista para 15 de dezembro de 2022, data em que Bolsonaro assinaria o decreto e Alexandre de Moraes seria preso e possivelmente assassinado por militares envolvidos no plano. A denúncia da PGR cita trocas de mensagens entre militares e Mauro Cid para sustentar que ele recebia atualizações sobre a operação. Cid, porém, alegou que estava em uma área com sinal fraco e não se comunicou com os envolvidos.
A denúncia agora segue para o STF, que decidirá se aceita ou não as acusações contra Bolsonaro e os demais envolvidos.
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