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Editorial | A falácia de vitimizar o traficante

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert

A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar que “traficantes são vítimas dos usuários também”, reacende um debate delicado e urgente sobre segurança pública, responsabilidade criminal e o papel do Estado no combate ao narcotráfico. Ao tentar relativizar a atuação de traficantes, Lula não apenas distorce a lógica da criminalidade, como também enfraquece o discurso institucional contra uma das maiores ameaças à vida nas periferias brasileiras.


A fala, feita durante visita à Indonésia, surge como resposta às políticas antidrogas do presidente norte-americano Donald Trump, que defende ações militares contra cartéis internacionais. Embora seja legítimo criticar abordagens excessivamente bélicas, Lula erra ao inverter a cadeia de responsabilidade e sugerir que o traficante é, em alguma medida, vítima do sistema — ou pior, dos próprios usuários.


Essa visão ignora o papel ativo e violento que o tráfico exerce nas comunidades. Traficantes não são apenas peças de um mercado movido pela demanda: são agentes que recrutam menores, impõem regras paralelas, desafiam o Estado e promovem execuções sumárias. Reduzir sua responsabilidade a uma consequência do consumo é desconsiderar a estrutura organizada e lucrativa que sustenta o narcotráfico.


Além disso, a declaração desrespeita as famílias que perderam entes queridos para a violência do tráfico. Para elas, o traficante não é uma vítima — é o algoz. É quem domina territórios com fuzis, quem decide quem vive e quem morre, quem transforma escolas em depósitos de armas e crianças em soldados.


O Brasil precisa de políticas públicas que tratem o usuário com dignidade e ofereçam alternativas ao encarceramento. Mas isso não pode vir acompanhado da romantização do criminoso. O combate ao tráfico exige inteligência, firmeza e clareza moral. E isso começa por reconhecer que o traficante não é vítima — é parte central do problema.


Lula, ao relativizar essa realidade, presta um desserviço ao debate. O país precisa de liderança que enfrente o tráfico com coragem e responsabilidade, não de discursos que confundem justiça com condescendência.

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