Escândalo da 25 de Março: Odebrecht e o financiamento ilícito de campanhas políticas
- Luana Valente
- há 5 dias
- 2 min de leitura

São Paulo — Uma nova camada de corrupção envolvendo a construtora Odebrecht, agora rebatizada como Novonor, veio à tona com revelações sobre um esquema de caixa 2 operado entre 2013 e 2015, centrado na tradicional Rua 25 de Março, no centro da capital paulista. A investigação, que ganhou força após documentos compartilhados por autoridades dos Estados Unidos, expôs como o comércio popular da região foi utilizado como ponto estratégico para coleta de dinheiro vivo destinado ao financiamento ilícito de campanhas políticas no Brasil.
Segundo apurações da Polícia Federal e delações premiadas de doleiros envolvidos, lojas de papelaria, brinquedos e confecções da 25 de Março e do Brás movimentavam grandes volumes de dinheiro não rastreado. Esse montante era recolhido por uma transportadora de valores contratada por operadores ligados à Odebrecht. Policiais militares — alguns da ativa, outros aposentados — eram pagos para transportar até R$ 500 mil por dia em mochilas e sacolas esportivas, entregando os valores diretamente a intermediários de políticos em residências, escritórios e flats.
O dinheiro coletado era armazenado em cofres de salas comerciais alugadas por doleiros, funcionando como verdadeiros bunkers. A Odebrecht, por meio de seu departamento de propinas, coordenava as entregas e os pagamentos ilícitos. A operação foi desmantelada pela Lava Jato, mas ganhou novos contornos com a retomada das investigações internacionais, especialmente após o governo dos EUA citar a 25 de Março como exemplo de práticas comerciais ilegais e pirataria.
O escândalo reacendeu o debate sobre vulnerabilidades institucionais brasileiras. A Representação Comercial dos EUA (USTR) incluiu a 25 de Março em um relatório sobre concorrência desleal, apontando o uso de ferramentas como o Pix para facilitar movimentações financeiras irregulares. A denúncia também coincide com tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, intensificadas durante a gestão de Donald Trump.
As revelações colocam novamente em xeque a relação entre grandes empreiteiras e o financiamento de campanhas eleitorais no país. O uso de dinheiro não declarado para influenciar decisões políticas levanta preocupações sobre a integridade do processo democrático e reforça a necessidade de reformas estruturais na fiscalização de recursos eleitorais.
Comments