Obra da COP30 em Belém transfere esgoto de áreas nobres para comunidade de palafitas, gerando críticas e denúncias
- Luana Valente
- há 2 dias
- 2 min de leitura

Belém, Pará — A preparação da capital paraense para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro, tem gerado polêmica. Uma das obras de infraestrutura mais emblemáticas, o novo Sistema de Esgotamento Sanitário da Doca, está sendo construído para atender bairros nobres como Reduto e Umarizal, mas o destino final dos rejeitos será a comunidade da Vila da Barca — uma das maiores favelas de palafitas da América Latina, que nunca teve acesso pleno ao saneamento básico.
Obra e seus impactos
O projeto da Nova Doca, com investimento de R$ 310 milhões, inclui despoluição do canal, drenagem, controle de maré e tubulação de água potável.

A estação elevatória de esgoto está sendo instalada em um prédio centenário desapropriado na Vila da Barca, que já havia sido reivindicado pela comunidade para fins sociais, como escola ou unidade de saúde. O esgoto gerado nos bairros nobres será bombeado para essa estação, localizada em uma área que sofre com infraestrutura precária e ausência de serviços públicos essenciais.
Reações da comunidade
Os moradores da Vila da Barca denunciam que não foram consultados sobre a obra e apontam um caso de racismo ambiental, já que os impactos negativos recaem sobre uma população historicamente vulnerável.

A intensa circulação de caminhões e despejo de entulhos da obra têm causado problemas respiratórios, proliferação de insetos e danos à mobilidade local. Além disso, a qualidade da água na comunidade é outro agravante, uma vez que piorou desde o início das obras, segundo relatos de moradores, embora não haja estudos técnicos conclusivos até o momento.

Contexto político e ambiental
A COP30 promete colocar Belém no centro das discussões climáticas globais, mas a escolha de obras que beneficiam áreas ricas enquanto sobrecarregam comunidades pobres levanta questionamentos sobre justiça ambiental. No entanto, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, foi criticado por não abordar o tema do racismo ambiental em sua carta oficial sobre os desafios do evento.
A realidade da comunidade da Vila da Barca expõe um dilema entre a imagem internacional que Belém busca projetar e as desigualdades locais que persistem — e que, segundo moradores e especialistas, estão sendo agravadas pelas obras da COP30.
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