
Uma equipe da Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que há “motivos razoáveis para acreditar” que atos de violência sexual, incluindo estupro e estupro coletivo, foram cometidos durante os ataques do Hamas em Israel em 7 de outubro do ano passado.
Segundo eles, há também “informações convincentes” de que os reféns haviam sido submetidos a violência sexual.
A missão foi liderada por Pramila Patten, enviada especial da ONU para violência sexual em conflitos.
O Hamas nega que seus homens armados tenham abusado sexualmente de mulheres durante os ataques.
Os atos de violência sexual teriam acontecido em pelo menos três lugares: no local onde foi realizado o festival de música Nova e em seus arredores, na rodovia 232, e no Kibutz Re'im, acrescenta o texto.
Homens armados do Hamas se infiltraram no sul de Israel em 7 de outubro do ano passado, matando cerca de 1,2 mil pessoas e fazendo outras 253 reféns.
Israel respondeu lançando uma campanha militar em Gaza, durante a qual 30.500 pessoas foram mortas, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas.
Denúncias de violência sexual perpetrada pelo Hamas — que é considerado uma organização terrorista por Israel, pelo Reino Unido e outros países — começaram a surgir pouco depois de 7 de outubro, e estão se acumulando progressivamente desde então.
A BBC também viu e ouviu evidências de estupro, violência sexual e mutilação de mulheres.
Aviso: O texto a seguir contém descrições detalhadas de estupro e violência sexual.
No relatório, a ONU afirma ter “encontrado informações claras e convincentes de que atos de violência sexual, incluindo estupro, tortura sexual e tratamento cruel, desumano e degradante, foram cometidos contra reféns”.
O texto diz ainda que “há motivos razoáveis para acreditar que tal violência pode estar em curso contra aqueles que ainda estão sendo mantidos em cativeiro”.
A equipe da ONU visitou Israel entre 29 de janeiro e 14 de fevereiro.
A missão, composta por Patten e nove especialistas, não tinha natureza investigativa, mas destinava-se a coletar e verificar denúncias, informou a ONU.
A organização acrescentou que foram realizadas 33 reuniões com representantes israelenses — e foram analisadas mais de 5 mil imagens fotográficas, assim como 50 horas de filmagens.
O relatório afirma que “apesar do esforço concentrado para encorajar” as vítimas a se manifestarem, a equipe não conseguiu entrevistar nenhuma delas.
Algumas denúncias de estupro e violência sexual eram “infundadas”, explica o relatório, incluindo o caso divulgado em detalhes de uma mulher grávida cujo útero teria sido rasgado, e seu feto esfaqueado.
Outras denúncias não puderam ser verificadas devido a imagens limitadas, informou a ONU.
A organização também disse que não foi capaz de estabelecer um padrão discernível de mutilação genital.
O relatório da ONU também descreve denúncias de violência sexual contra palestinos sob custódia israelense, incluindo “toques indesejados em áreas íntimas” e “nudez forçada prolongada”.
O texto observa que, embora não tenham sido relatados casos de estupro contra palestinos, as normas culturais conservadoras podem ter impedido a denúncia de agressões sexuais.
“Israel saúda o reconhecimento definitivo de que o Hamas cometeu crimes sexuais”, declarou Lior Haiat, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, em resposta à publicação do relatório.
Ele acrescentou que Israel agora estava "pedindo a convocação imediata do Conselho de Segurança [da ONU] com o objetivo de designar o Hamas como uma organização terrorista e impor sanções internacionais contra ele".
Haiat rejeitou, no entanto, o relato da equipe da ONU de que também havia recebido informações sobre violência sexual contra homens e mulheres palestinos em centros de detenção, durante invasões a domicílios e em postos de controle após 7 de outubro.
“Esta é uma manobra palestina irrisória e deliberada que visa criar uma equivalência intolerável entre os crimes horríveis que foram cometidos, e continuam a ser cometidos, pelo Hamas e as acusações maliciosas e infundadas feitas contra Israel e os israelenses."
Israel havia rejeitado denúncias semelhantes feitas anteriormente por um painel de especialistas independentes da ONU, classificando-as como “desprezíveis e infundadas”.
Haiat também disse que Israel se opõe à recomendação feita no relatório para que o país coopere com a Comissão Internacional de Inquérito da ONU, que está tentando conduzir uma investigação sobre potenciais crimes de guerra em ambos os lados.
Ele acusou o inquérito de ser hostil a Israel.
Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, convocou na segunda-feira (04/03) o embaixador do país na ONU para "consultas", acusando a organização de uma "tentativa de silenciar o grave relatório da ONU sobre estupros em massa".
Ele criticou o secretário-geral da ONU, António Guterres, por não ter convocado o Conselho de Segurança para discutir as conclusões do relatório — e para declarar o Hamas como uma organização terrorista.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, afirmou que Guterres “apoiou totalmente” o trabalho de Patten em sua visita a Israel.
“De forma alguma o secretário-geral fez alguma coisa para manter o relatório 'silencioso'. Na verdade, o relatório está sendo apresentado publicamente hoje", acrescentou Dujarric.
BBC
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