Belém às vésperas da COP30: 10% da população vive sob risco de inundações em meio ao crescimento urbano desordenado
- Luana Valente
- 4 de jul.
- 2 min de leitura

Às margens da COP30, que será realizada em novembro de 2025, Belém — capital paraense e porta de entrada da Amazônia — enfrenta um paradoxo alarmante: enquanto se apresenta ao mundo como vitrine da sustentabilidade, cerca de 10% de sua população vive em áreas de risco de inundações, alagamentos e deslizamentos.
Segundo levantamento da InfoAmazonia com base em dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e do IBGE, aproximadamente 130 mil pessoas estão expostas a desastres hidrogeológicos em uma cidade onde 57% da população vive em áreas urbanas precarizadas A. O crescimento urbano desordenado, especialmente desde a década de 1940, levou à ocupação de margens de rios e canais com resíduos, entulho e ausência de infraestrutura básica.
Obras antigas, promessas novas
Como parte do chamado “legado da COP”, o governo estadual reembalou um antigo projeto de macrodrenagem iniciado em 1996. As obras, que abrangem 12 canais das bacias dos rios Tucunduba, Murutucu, Una e Tamandaré, prometem reduzir os alagamentos crônicos que afetam bairros como Guamá e Terra Firme. No entanto, moradores expressam ceticismo: “O que era para ser solução virou mais um problema”, relatam, apontando agravamento das enchentes durante as intervenções.
Crise climática e vulnerabilidade social
A intensificação das chuvas e a elevação do nível do mar, agravadas pela crise climática, aumentam a pressão sobre uma cidade com infraestrutura deficiente. A pesquisadora Íris Bandeira, do SGB, alerta que sem educação ambiental e gestão territorial, os investimentos em drenagem podem ser ineficazes. “Se as pessoas continuarem jogando lixo nos canais, o sistema vai entupir novamente”, afirma.
Retrato da desigualdade
O bairro do Guamá, o mais populoso da capital, ilustra a desigualdade socioambiental: majoritariamente habitado por pessoas negras e de baixa renda, convive há décadas com enchentes sazonais. A ocupação histórica da área remonta a antigos hospitais leprosários, e hoje a comunidade enfrenta os impactos diretos da urbanização precária e da ausência de políticas públicas eficazes B.
COP30: oportunidade ou maquiagem?
Com a chegada de quase 200 chefes de Estado e milhares de delegados à cidade, a COP30 representa uma oportunidade histórica para Belém. No entanto, especialistas e lideranças locais alertam que sem inclusão social e planejamento urbano sustentável, o evento corre o risco de ser apenas uma vitrine temporária, sem legado duradouro para quem mais precisa.
“Enquanto se discutem metas de carbono e mercados verdes, moradores seguem enfrentando, dia após dia, o impacto direto da crise climática em suas casas.” — InfoAmazonia, série Vulneráveis do Clima.
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