Sindicato ligado a irmão de Lula tentou ampliar descontos para beneficiários do Bolsa Família

Ricardo Stuckert

O Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), entidade ligada à Força Sindical e que tem entre seus dirigentes José Ferreira da Silva, o Frei Chico — irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, atuou nos bastidores do governo federal para tentar viabilizar o desconto de mensalidades associativas diretamente nos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), incluindo o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A tentativa ocorreu no início de 2023, quando o então presidente do Sindnapi, João Batista Inocentini, enviou um ofício ao recém-empossado ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), solicitando mudanças nas regras que impedem esse tipo de desconto em programas assistenciais. O documento, obtido pelo portal Metrópoles, pedia autorização para que o sindicato pudesse descontar mensalidades diretamente da folha de pagamento de beneficiários desses programas sociais.

Atualmente, a legislação brasileira proíbe esse tipo de desconto automático em benefícios assistenciais como o Bolsa Família e o BPC, justamente por se tratarem de auxílios voltados a pessoas em situação de vulnerabilidade. Apesar da solicitação, o pedido do sindicato não foi atendido e não houve alteração nas normas vigentes.

O episódio ganhou repercussão em meio às investigações da Polícia Federal sobre um esquema de descontos indevidos em aposentadorias, revelado pela Operação Sem Desconto. A operação resultou na demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do próprio ministro Carlos Lupi.

Frei Chico, que integra a direção do Sindnapi desde 2008, assumiu a vice-presidência da entidade em 2024. Embora não tenha assinado o ofício, ele fazia parte da cúpula sindical no período em que o pedido foi encaminhado ao governo.

Em nota, o Sindnapi tenta justificar alegando que a solicitação fazia parte de uma série de pleitos apresentados no início do novo governo e que “é natural que as lideranças procurem o novo governo para articular suas pautas”.