Crise e conciliação: oposição devolve Mesa da Câmara a Hugo Motta após acordo político

REUTERS/Mateus Bonomi

Na noite de quarta-feira (6), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), reassumiu sua cadeira na Mesa Diretora após mais de 24 horas de ocupação por parlamentares da oposição. A retomada do posto ocorreu em meio a um cenário de tensão e negociações intensas, marcando o desfecho de um impasse que paralisou os trabalhos legislativos e expôs a fragilidade do diálogo entre os poderes.

A ocupação da Mesa teve início na terça-feira (5), como forma de protesto contra a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Deputados bolsonaristas exigiam a inclusão na pauta de projetos como a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado.

Durante o protesto, parlamentares como Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Júlia Zanatta (PL-SC) se revezaram na cadeira da presidência, para obstruir os trabalhos da Casa. A iniciativa considerada incomum no Congresso, foi acompanhada por palavras de ordem como “anistia já” e “sem anistia”, entoadas por oposicionistas e governistas, respectivamente.

Após horas de negociação, líderes do Centrão sinalizaram apoio à inclusão da PEC 333/17, que trata do fim do foro privilegiado, na pauta de votações. Esse gesto foi decisivo para que a oposição aceitasse desocupar a Mesa. Hugo Motta, cercado por aliados como Dr. Luizinho (PP) e Isnaldo Bulhões (MDB), conseguiu se sentar na cadeira da presidência por volta das 22h20, quase duas horas após o horário previsto para a sessão.

Em seu discurso, Motta classificou a ação da oposição como prejudicial à imagem da Câmara. Reiterou o compromisso com o diálogo e afirmou que “não podemos negociar nossa democracia”, e ainda destacou que projetos pessoais não devem se sobrepor às soluções institucionais necessárias para o país.

A sessão convocada por Motta teve duração de cerca de 20 minutos e não contou com votações. A pauta oficial ainda será divulgada pela Secretaria-Geral da Mesa, mas há expectativa de que temas como a anistia dos presos pelos atos do 8 de janeiro e a PEC do foro privilegiado sejam discutidos nos próximos dias.

A crise evidenciou o clima de ebulição política no Congresso e a crescente polarização entre os poderes. Por ora, os parlamentares de oposição disseram que o acordo representa um avanço para atingirem os objetivos.

“Toda essa ocupação feita pelos guerreiros parlamentares que cumpriram até agora tem o objetivo principal da volta das prerrogativas Constitucionais do Congresso Nacional“, endossa o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante.